Surgimento do Espiritismo

O SURGIMENTO DO ESPIRITISMO

            Falar sobre a história do Espiritismo é rememorar a história da Humanidade, já que sempre houve fenômenos espirituais. Contudo, definiu-se como marco inicial do Espiritismo a data de 18 de abril de 1857, quando da publicação da primeira edição de “O Livro dos Espíritos”.

            Antes do que foi definido por José Herculano Pires, na obra “História do Espiritismo” (p.12), como “a invasão organizada” dos Espíritos, a nossa história é pontuada pela presença de médiuns de marcantes faculdades que, certamente, prepararam o terreno para a manifestação ostensiva que culminou no nascimento do Espiritismo. Podemos defini-los como “os antecessores”.

OS ANTECESSORES

            O primeiro nome que destacamos é o de Emmanuel Swedenborg.

            Nascido em Estocolmo, Suécia, em 29 de janeiro de 1688, foi polímata ou seja, conhecia e estudava várias ciências. Já era cientista, filósofo e inventor respeitado, quando a faculdade da clarividência manifestou-se de maneira rápida e inesperada. Mesmo que as visões espirituais fossem comuns a Swedenborg desde sua infância, numa noite em abril de 1743, tendo uma visão de “um homem radiante”, que autodenominou-se como Deus e disse-lhe o ter escolhido para trazer revelações sobre as Sagradas Escrituras aos homens. O próprio Swedenborg relata que, desde então, “os olhos do meu homem interior foram abertos e dispostos para ver o céu, o mundo dos Espíritos e os infernos, e eu encontrei por toda parte várias pessoas conhecidas, algumas falecidas há muito tempo, outras recentemente. Desde aquele dia renunciei a todas as ocupações mundanas para trabalhar exclusivamente nas coisas espirituais, para me submeter à ordem que eu havia recebido.” (Revista Espírita, novembro de 1859)

            Também é famoso o relato que, estando certa vez em uma reunião em Gotemburgo, testemunhou um incêndio que consumia a rua onde morava em Estocolmo, distante 400 quilômetros de onde se encontrava. Apavorado, percebeu que o fogo avançava sobre sua casa. Algumas horas depois, constatou, aliviado, que o incêndio havia parado a três portas de sua casa. Ao retornar ao lar, testemunhas lhe descreveram o incêndio exatamente como ele havia visto.

            Seus relatos espirituais influenciaram vários pensadores, como Honoré de Balzac e Charles Baudelaire e, apesar de muitas vezes descrever em minúcias o mundo espiritual, deu-lhe uma interpretação equivocada, o que mais tarde admite em comunicação a Allan Kardec, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e publicada no mês de novembro de 1859, na Revista Espírita.

            Tudo isso, porém, não lhe tira o mérito de médium de vigorosa faculdade, “o primeiro de todos os homens modernos que descreveram o processo da morte e do mundo do além, o que não se baseia no vago extático e nas visões impossíveis das velhas Igrejas”, como descreve Arthur Conan Doyle, em “História do Espiritismo” (página 43).

            Emmanuel Swedenborg desencarna em Londres, a 29 de março de 1772.

            Dentre outros nomes que podemos citar, está primeiramente o ministro da Igreja Escocesa (Presbiteriana) Edward Irving (4/08/1792-7/12/1834).

            Dotado de grande eloquência, seus sermões reuniam grande número de seguidores em uma igreja presbiteriana em Regent Square, Londres. Em 1831, pregando o que seria a “Segunda Vinda do Senhor”, os seguidores de Irving acreditavam que haveriam sinais que assinalariam o “Fim dos Tempos” e isso incluiu ruidosas manifestações espirituais, a xenoglossia e profecias. Por conta desses acontecimentos, Irving foi afastado de seu ministério em Regent Square e seus seguidores (cerca de 600 pessoas) fundaram a Igreja Católica Apóstolica. Em 1833, Edward Irving foi, finalmente, deposto como ministro da Igreja Escocesa, vindo a desencarnar no ano seguinte.

            Em 1837, nos EUA, irromperam fenômenos espirituais nas comunidades sóbrias dos shakers (seita religiosa fundada no século XVIII na Inglaterra). Invasores dessas comunidades, Espíritos de índios “Peles Vermelhas”, primeiro pediam licença para entrar e uma tribo inteira manifestava-se através dos médiuns com gritos de “Whoop! Whopp!”  e danças. Depois de estudarem o fenômeno, os shakers chegaram à conclusão de que aqueles Espíritos teriam vindo para aprender, passando a catequizá-los. Quando contavam-se sete anos das manifestações, os Espíritos partiram, dizendo “que se iam, mas que voltariam; e que, quando voltassem, invadiriam o mundo e tanto entrariam nas choupanas quanto nos palácios.” (“História do Espiritismo”, página 56)

            Conhecido como o “Profeta da Nova Revelação”, o médium americano Andrew Jackson Davis (11/08/1826-13/01/1910), nascido em uma família de escassos recursos financeiros, criado em uma típica província rural de Nova Iorque, começou a manifestar a clarividência e a clauriaudiência tão logo saiu da infância. Jovem classificado como rude, “fraco de corpo e pobre de mente” (“História do Espiritismo”, página 59) quando magnetizado, diagnosticava doenças, pois o corpo humano tornava-se translúcido como vidro para ele. Também hipnotizado, emancipava-se espiritualmente, trazendo notícias de locais distantes. Num desses desdobramentos, Davis encontra-se com os Espíritos Swedenborg e do médico e filosófo Cláudio Galeno, que lhe revelam serem seus mentores. Quando em transe, falava línguas que desconhecia, demonstrando ainda conhecimentos que nunca teria a oportunidade de estudar quando encarnado, debatendo sobre temas eruditos com grandes estudiosos da época.

            Escreveu vários livros que recebeu no intercâmbio com os Espíritos, que reuniu na obra “Filosofia Harmônica”. Ainda prevê a criação do automóvel, da máquina de escrever, do avião etc.

            Digno de nota foi o acontecimento da madrugada do dia 31 de março de 1848, quando Davis registrou: “Esta madrugada um sopro quente passou pela minha face e ouvi uma voz, suave e forte, dizer: ‘Irmão, um bom trabalho foi começado – olha! Surgiu uma demonstração viva!”. O Espírito referia-se ao início do episódio de Hydesville, com a família Fox.

AS IRMÃS FOX E O MODERNO ESPIRITUALISMO

            Em dezembro de 1847, a família de fazendeiros Fox, composta pelo pai, mãe e duas filhas, Margaret, de 14 anos e Catherine, de 11 anos, mudou-se para uma pequena casa no vilarejo rural de Hydesville, no estado de Nova Iorque.

            Conta-se que a casinha já tinha fama de mal-assombrada e no mês de março de 1848, ruídos noturnos estranhos começaram a irromper na casa. Eram “golpes fortes e surdos no teto, pancadas sonoras nas portas e nas paredes, às vezes baques violentos o suficiente para sacolejar cabeceiras e mesas” (“Falando com os Mortos”, p. 37).

            Na noite de 31 de março de 1848, logo após a família deitar-se, os sons habituais tornaram-se mais altos e continuados. Visto que a família já algum tempo não dormia com os barulhos, Catherine, ou Katie, desafiou a “força invisível” a repetir os sons que fazia ao estalar os dedos e batendo palmas, dizendo: “Sr.Pé-Rachado, faça o que eu faço”. Logo após, ouviam-se, em resposta, a quantidade de batidas correspondente ao número de palmas de Katie. A mãe, também chamada Margaret, começa então a fazer perguntas à entidade, que lhe responde exatamente. Logo, a vizinhança também estava na casinha a fazer perguntas, prontamente respondidas pelo Espírito que, mais tarde, revela-se como Charles Rosna, um mascate que havia sido assassinado por antigos inquilinos da casa e enterrado no porão. Desde que as manifestações se repetiram noites a fio, comissões de investigação foram constituídas, primeiramente compostas pelos moradores locais e, posteriormente, formadas por homens notáveis da comunidade. Com o passar  do tempo e com as pancadas acompanhando Maggie e Katie onde elas iam, a irmã mais velha das duas, Leah, juntou-se ao grupo, revelando-se também médium.

            Sir Arthur Conan Doyle relata que as manifestações estenderam-se a outras famílias e grupos que acabaram se formando, e “era como uma nuvem psíquica, descendo do alto e se mostrando nas pessoas suscetíveis” (“História do Espiritismo”, página 85).

            Desde o início das manifestações, um método de respostas com o alfabeto já havia sido adotado para a comunicação com os Espíritos, mas foi Isaac Post que acabou por aperfeiçoá-lo.

            As irmãs Fox passaram a fazer exposições públicas dos fenômenos, a primeira em 14 de novembro de 1849, no Corinthian Hall, o maior auditório de Rochester e seguiram com uma carreira pública da mediunidade, expostas, desde cedo, à curiosidade e futilidade daquelas pessoas que só estavam interessadas no aspecto material dos fenômenos. Kate viria ainda a ser estudada pelo pesquisador inglês William Crookes, notável investigador de fenômenos espirituais.

            Kate e Maggie desencarnam de maneira melancólica, nos anos 1890. Viveram sua vida mediúnica em meio a polêmicas, quando chegaram a negar os fenômenos espirituais e marcadas pelo alcoolismo.

            As manifestações que se iniciaram naquela casinha modesta deram origem ao Moderno Espiritualismo, como o movimento ficou conhecido nos EUA.

AS MESAS GIRANTES

            Com a “nuvem psíquica” se espalhando, a sociedade americana começou a presenciar além dos raps, o fenômeno da “table-moving”, as mesas girantes, que foi proposto pelos próprios Espíritos. “Bastava simplesmente que se colocassem ao redor de uma mesa, em cima da qual se poriam as mãos. Levantando um dos seus pés, a mesa daria (enquanto se recitava o alfabeto) uma pancada toda vez que fosse proferida a letra que servisse ao Espírito para formar as palavras” (“As Mesas Girantes e o Espiritismo”, página 8).

            A mesa movia-se em todos os sentidos, além de elevar-se e flutuar no ar. O fenômeno alastrou-se pelos EUA e apareceram inúmeros médiuns que, igualmente, começam a psicografar e trazer mensagens psicofônicas.

            No ano de 1852, alguns médiuns americanos chegam à Escócia levando a novidade às paragens europeias. As manifestações projetam-se por toda a Inglaterra. No ano seguinte, em 1853, elas já se encontravam na Alemanha, aportando também na França.

O PROFESSOR RIVAIL E AS MESAS GIRANTES

            A novidade das mesas girantes, e falantes, ganha a Europa trazendo um novo passatempo de salão. Charges eram publicadas nos jornais, levantando um ar brincalhão do fenômeno.

            Seguidores do magnetismo começam a estudar os fenômenos, crendo que tudo não passava da atuação do fluido magnético.

            É nesse clima que o então professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, homem sério, de notável inteligência, racional, magnetizador, educador respeitado e discípulo do suíço Johann Heirinch Pestalozzi, ouve falar das mesas girantes.

            Corria o ano de 1854 e o professor Rivail encontra um colega magnetizador, Sr.Fortier, que lhe conta sobre as manifestações. Algum tempo depois, o Sr.Fortier diz ao professor que as mesas não só se moviam, mas também falavam. Rivail, cético, responde: “Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa se tornar sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que conto para nos fazer dormir” (“Obras Póstumas”, página 264).

            Em 1855, o professor encontra com o Sr. Carlotti, amigo de longa data, que lhe descreve, entusiasmado, a intervenção de Espíritos nas mesas falantes e vaticina: “Um dia, o senhor será dos nossos” (“Obras Póstumas”, página 265).

            Depois de um mês desse encontro, convidado a uma sessão na casa da Sra. Plainemaison, Rivail presencia pela primeira vez “o fenômeno das mesas que giravam”. Assiste ainda, na mesma ocasião, uma manifestação de escrita mediúnica, obtida com um cesto. Atestando tudo com os próprios olhos, conclui: “Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que resolvi estudar a fundo” (“Obras Póstumas”, página 266).

            E observando, estudando, comparando respostas de vários Espíritos a uma mesma questão, o professor Rivail chega à codificação do Espiritismo, quando adota o nome de Allan Kardec, nome de uma anterior encarnação, quando era druida.

            Começava a se cumprir a palavra espiritual nas manifestações americanas de que a finalidade delas era “conduzir a humanidade em harmonia e para convencer os céticos da imortalidade da alma” (“História do Espiritismo”, página 90).

            A Doutrina Espírita é revelada através das seguintes obras, publicadas por Allan Kardec:

            18/04/1857 publica “O Livro dos Espíritos”;

            01/01/1858 – Inicia-se a publicação da Revista Espírita (1858-1869);

            1859 – “O Que É o Espiritismo?”;

            1861 – “O Livro dos Médiuns”;

            1864 – “O Evangelho Segundo o  Espiritismo”;

            1865 – “O Céu e o Inferno”;

           1868 – “A Gênese, os Milagres e as Predições”;

            1869 – “Iniciação Espírita”;

            1890 – “Obras Póstumas” – que são escritos e estudos inéditos de Kardec, com anotações sobre os bastidores da criação da doutrina, que auxiliam a sua compreensão e foram publicados pelos amigos do Codificador, após o seu desencarne..

 

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